Assassinato dos desejos

Tragédia, guardada em caderno vermelho, escrito quando ainda se acreditava em deusas e se desconhecia as feiticeiras.




Coluna do Alexandre Lucas, Colunas

Domingo. Ainda não tinha idade para votar, mas já conhecia a noite. Choveu durante à tarde, mas nada que impedisse de sair de casa. Era dia de festa, os ingressos já estavam comprados. Carrapato que nunca foi de dança, naquele dia dançou.

Choveu, mas nada comparado aos dias seguintes em que a chuva foi carregada de trovões e relâmpagos. Uma tempestade que estava longe de ser um copo com água nas mãos de Carrapato.

A festa durou o tempo suficiente, iniciou com sol, apesar da chuva e terminou com a lua. Enquanto algumas beberam, outras cheiravam perfume até perderem a noção da realidade. Chutar com força a realidade, mesmo que instantaneamente, é fuga, é respiração de segundos. O instante é desmedido. Depois tudo deixa de ser festa.  

Os risos daquele domingo tinham a força de terremotos. Tragédia, guardada em caderno vermelho, escrito quando ainda se acreditava em deusas e se desconhecia as feiticeiras. O caderno foi perdido, já se passaram outras festas.  

Carrapato ainda gruda nesta história e a cada festa espera o assassino dos seus desejos.