A PULSÃO POÉTICA DE AUGUSTO DOS ANJOS

O poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) é autor de uma única obra, EU, que a um só tempo, mescla características românticas, naturalistas, parnasianas e simbolistas. A multiplicidade de seus versos ecoa o som da morte, do pessimismo, da melancolia e da dor de existir.




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Para uns, parnasiano pela opção pelo soneto; para outros, simbolista pela atitude místico-filosófica; naturalista pela linguagem determinista e cientificista; para muitos, moderno pela multiplicidade de tais características, aparentemente incompatíveis. Simplesmente poeta, eis Augusto dos Anjos, “ aquele que ficou sozinho”, nascido no dia 20 de abril de 1884, no estado da Paraíba.  

Todo grande escritor é, antes de tudo, um leitor. Com Spencer aprendeu a incapacidade de se conhecer a essência das coisas, com Schopenhauer  refletiu sobre o aniquilamento da vontade própria como forma de sobrevivência. Com a Bíblia foi capaz de contestar o cristianismo e a religião de modo geral.

Em 1912, publica seu único livro, Eu, formado por cinquenta e seis poemas, dos quais quarenta são sonetos decassílabos. “Que ninguém doma um coração de poeta”, sobretudo se sua Poética explora questões tétricas, como “cloaca”, “escárnio”, “verme”, “matéria em decomposição”, etc. Mesclando termos poéticos com termos filosóficos e com um vocabulário científico, Augusto dos Anjos construiu uma obra pulsional, violenta, visceral e pessimista. 

Sua linguagem é orgânica, agressiva, capaz de despir os desejos, as angústias e a dor de existir do outro. A dimensão cósmica, a angústia moral, a melancolia e o pessimismo permeiam os versos augustianos que, formalmente, apresentam um vocabulário rebuscado, figuras de linguagem, jogos de palavras, rimas ricas e incomuns.

Ler Augusto dos Anjos é penetrar em um universo crítico e lúcido de um sujeito que almejava mudanças para seu tempo (abolição da escravatura, miséria do povo), cujos versos concebidos por termos “a-poéticos” e sem compromisso com o “Belo” formam uma Poética forte e ácida.