A máscara burra de Bolsonaro cai

A única pessoa neste país capaz de liberar recursos para que vençamos este vírus é o presidente da república. E a única pessoa disposta a nos deixar perecer é justamente esta figura. Por quê?




Coluna do Paulo Rossi, Colunas

Diante de tantas evidências, estamos mergulhados no óbvio: “Bolsonaro acabou” – para mim nunca havia começado -. Politicamente, o projeto de presidente tem atirado contra o próprio pé com canhões, mas há uma carta na manga que ele pretende usar que quanto antes desmascarada melhor para todas e todos. Trata-se da sua já conhecida aposta no caos, tal qual Trump – e até Trump tem tido uma postura completamente diferente na situação em que estamos mergulhados -. Agora, este novo plano exige ainda mais que a gente o entenda para que tenha o mínimo de efeito possível sobre nossas saúdes e vidas. Essa coluna não precisa voltar ao absurdo pronunciamento do presidente. Quem tem capacidade cognitiva sabe que está errada e porquê. Quem quiser recapitular alguns pontos importantes para este texto, deve vir AQUI. Não é sobre o que estamos vendo que trataremos aqui hoje. Hoje trataremos do que pode estar por trás do que vemos.

Não é à toa que os governadores, com exceção de Dória – por motivos também eleitorais e já de olho em 2022, lógico -, e demais Poderes do Brasil têm sido covardes em suas últimas notas e declarações, várias bem mais “sutis” do que aquelas que costumavam vir fazendo até pouco tempo. Não é somente por uma necessidade de unir o povo brasileiro não. Pode ser medo. A única pessoa neste país capaz de liberar recursos para que vençamos este vírus é o presidente da república. E a única pessoa disposta a nos deixar perecer é justamente esta figura. Não é por pouco ou teimosia. É por um plano traçado que pode lhe garantir, aos olhos de sua tamanha loucura, arrogância e delírio, a eleição de 2022, mais poder, controle ou fuga de responsabilidade pela situação que estamos vivendo para se manter como um líder – posto em que, por vezes na prática ou na teoria, ele já esteve realmente? -.

Mas Bolsonaro, com tamanha falta de inteligência, não para de ameaçar sua própria estratégia. Para que seu plano funcione, não só é preciso, lá na frente, dizer que “avisou que não poderíamos parar e que isso traria recessão ao país”. Seria preciso afirmar que adotou uma postura séria apesar de tudo. E isso, até mesmo os mais gados, sabem. Até porque a recessão é global, uma preocupação de todos os governantes mundo afora e nem por isso algum deles passou a negligenciar a vida de seus povos – muito pelo contrário, inclusive, com Estados assumindo a frente na luta contra a doença e nas economias -.  Ao chamar de “gripezinha” e desprezar os efeitos do vírus, Bolsonaro coloca-se numa faca de dois gumes e cria um paradoxo irreversível que têm fim no número de doentes e mortos por COVID-19. Acompanhe: enquanto países como Alemanha injetam nesse momento mais de 12% do PIB para que não quebrem e não morram, aqui o nosso desgoverno “investe” irrisórios 2%, segundo dados do Jornal Nacional. Entre todos os economistas, é quase unânime que o Estado brasileiro tem formas concretas de enfrentar esse Novo Coronavírus sem entrar em colapso econômico e que o governo tem de onde tirar verba para o enfrentamento e garantir o bem estar dos empregos e da população. Ao negar isso e colocar a população de volta as ruas, quebrando protocolos mundiais de isolamento – sim, porque somos exceção frente ao que o mundo tem feito: um vexame internacional -, Bolsonaro automaticamente mergulha o país em mortes. E essas mortes serão sentidas, inclusive entre seus eleitores. Mais que isso, Bolsonaro não conseguirá jogar nos governadores a culpa pelo fracasso da sua gestão, por três simples e óbvios motivos:

1º. Para o plano de Bolsonaro funcionar e ele culpar os governadores e sociedade pela recessão que virá, o Coronavírus precisaria parar de fazer vítimas no Brasil. No entanto, se as pessoas seguirem seu discurso, irão voltar às ruas. Voltando às ruas, o vírus se disseminará e será um massacre. Sendo assim, a estratégia do presidente depende primeiramente de um fator: que as pessoas continuem, mesmo em meio ao seu discurso, em casa. Para isso ele depende que os governadores mantenham o isolamento. Com o isolamento mantido, a doença “logo” é vencida e ficará parecendo “de fato” que tudo não passou de uma “gripezinha”, um enorme alarme falso. Assim, seguindo sua estratégia, seria culpa dos governadores a recessão, já que eles mantiveram o isolamento mesmo diante do posicionamento de “não parar a economia” do Chefe de Estado maior da nação. O que o incapacitado não percebe é que, sem o Governo Federal, os governadores não conseguirão manter seus isolamentos estaduais. Não têm dinheiro para isso. Então das duas uma: ou manterão a quarentena e quebrarão suas economias, deixando ainda mais retórica ao presidente, ou pedirão, em breve, arrego. Logo, o que pode dar muito errado é que as pessoas começarão a sair de casa e os índices da doença voarão, deixando sob os ombros de Bolsonaro a justa total responsabilidade. A conta inteira vai cair sobre ele e não há Ministério de Saúde covarde voltando atrás que mude isso.

2º. Para esse mesmo plano dar certo, os próprios seguidores de Bolsonaro precisam ficar em casa. Com o isolamento em risco, eles serão os primeiros a sair caso realmente acreditem no que o presidente diz – isso também será testado -. E serão os primeiros a se infectarem. Isso não só ajudará os governadores e resto inteiro do mundo a provarem que o perigo é sim real como trará, diretamente, outra consequência ao sem cérebro:

3º. “Mas não era só uma gripezinha?”. Doentes, morrendo e com o país mergulhado em caos, até os próprios bolsominions vão começar a pôr em cheque a postura que o presidente do país adotou e perceberão que os governadores e o resto do mundo é que estavam certos – LOGICAMENTE, NÉ? SABEMOS DISSO JÁ DESDE SEMPRE -. Os que sobreviverem, vão precisar escolher entre continuar nas suas Cavernas (oi, Platão) ou encarar o óbvio: escolheram um genocida como presidente.

São tempos difíceis. O que “o gado” de Bolsonaro não entende ainda é a forma como o caos é sempre a carta coringa dele. Interessante como agora as recomendações médicas podem ser facilmente esquecidas e/ou ignoradas pelo presidente, mas na época das eleições para fugir dos debates eram seguidas mais do que a risca, de forma antecipada e responsável – exatamente o contrário do que estamos vivendo -. Veja a diferença de tratamento que o presidente dá ao povo e a si mesmo: ele tem precaução e eficiência quando é a própria saúde que está em risco, mas não pensa duas vezes antes de jogar aos leões o povo brasileiro em risco. Porque não adotar uma estratégia diferente? Porque não encarar esse problema, mandar ajuda e dinheiro aos Estados e arcar com a glória de ser o grande herói numa situação dessas? Imagina dizer que venceu esse desafio. Mas não, “vamos continuar fazendo trambicagem, afinal fomos eleitos assim e só sabemos agir assim”. Essa é a postura do nosso Governo.

Portanto, mais do que nunca, Bolsonaro depende de muitos fatores para que seu plano funcione. E pode funcionar, sem dúvidas, mas é muito arriscado. Porque não é sobre garantir empregos que o presidente fala. Não é só uma resposta aos empresários nazistas desse país que não se preocupam, como já bem disseram, com “umas vidas que serão perdidas” em meio a COVID-19. Cumprindo sua função, o Estado garantiria que nada disso acontecesse e deixaria todos minimamente tranquilos. O que Bolsonaro quer é uma guerra quase silenciosa, definitiva, que o coloque num patamar acima de tudo e de todos – “Bolsonaro acima de tudo, dólar acima de todos”? -. O desgaste e derretimento da sua imagem e governo mostram que, no entanto, mesmo dando certo, a sua estratégia é frágil e custará caro pelas vidas que serão perdidas e pelo campo político que será totalmente afetado. Perder aliados é como a não cicatrização de feridas expostas. O corpo, com o tempo, enfraquece com os colapsos que vai sofrendo.

É triste notar em que ponto chegamos. É triste e de lamentar vermos amigos, familiares caindo em conversa fiada. É uma dor que, eu sei, não gostaríamos de passar. Há dias estou com tanto ódio guardado dentro de mim que acabo por descontar em meus pais, que estão há 11 dias “presos” comigo. Precisamos, no entanto, desmascarar a frágil estratégia de Bolsonaro mais uma vez, acreditando que ao fazê-lo estaremos também nos aproximando do dia em que não precisaremos mais deste mecanismo. É necessário exercitar a paciência. A aposta desta coluna para o futuro é que os casos do Novo Coronavírus no Brasil sobem. A máscara burra de Bolsonaro cai.

 

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