A essência de Henriqueta Lisboa

Henriqueta Lisboa, poeta, tradutora, ensaísta e crítica literária, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Mineira de Letras (AML).




Coluna Literária, Colunas

Henriqueta Lisboa, nascida em 15 de julho de 1901, em Minas Gerais, afirmava que a literatura, ou melhor, a poesia preenchia sua existência, talvez, por isso, cedo tenha começado a publicar seus livros.

A escritora não aderiu formalmente ao movimento modernista, embora fosse influenciada por ele ao dialogar com vários escritores desse período que, ao mesmo tempo, eram seus (ilustres) leitores: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Mário de Andrade. 

A Nobel de Literatura Gabriela Mistral foi outra leitora de Henriqueta. Em 1943, de passagem pelo Brasil proferiu uma palestra sobre a autora, especialmente, sobre o livro “O Menino Poeta” – “Ai! que esse menino / será, não será?… / Procuro daqui / procuro de lá” – lançado naquele mesmo ano. Sem pretensões didáticas, a obra é marcada pelo jogo de palavras, sonoridade, repetições e musicalidade. A obra desperta nossa sensibilidade, volúpia, sonhos e reminiscências, e também a criança interior guardada em cada um de nós. 

Contudo, sua estreia literária ocorreu bem antes, em 1925, com a obra “Fogo Fátuo” – coletânea de poemas com traços simbolistas. É autora ainda de “Convívio Poético” (1955), “Vigília Poética” (1968) e “Vivência Poética (1979), todas dedicadas às reflexões sobre o próprio fazer poético e vivências particulares/coletivas, sobretudo a busca pela “essência do ser”, tônica central de sua Poética.

Uma coletânea de poemas escrita entre os anos de 1941 e 1945 –  “A Face Lívida” –  e dedicada à memória do amigo Mário de Andrade falecido em 1945 merece destaque. Os poemas são marcados pela melancolia, dor, amargura, como observamos nos versos: “Eu quero a paz, a grande paz / da lua sozinha no céu”. 

Porém, a morte, ou seja, “A Face Lívida” é a tônica da obra. Interessante é que seu título –  “A Face Lívida” –  se repete em quatro outros poemas: dois deles abrindo e fechando o livro e os outros dois no meio: “Porém a face / lívida / dos que resistem / pelo espanto”. Essa face é tanto de quem parte, como de quem fica e sofre com a perda. Dela ninguém escapa.

Henriqueta Lisboa, que na concepção do pernambucano Manuel Bandeira “é um dos nossos mais fortes e perfeitos poetas” desejou, antes de morrer, que seus versos fossem apreendidos ou, simplesmente, contemplados pelos leitores. Realizemos, pois, seu pedido.