A Drummond, com amor!

Esta semana o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade completaria 118 anos. Sua
obra é vária, sua linguagem é multifacetada e sua ausência é sentida por todos aqueles
que apreciam ler Poesia!




Coluna Literária, Colunas

Descobri em Carlos Drummond de Andrade um universo de pedras, enigmas,
sombras, personagens, amores, reflexões, lições, impurezas, corpos e paixões. Descobri,
outrossim, que Drummond, além de poeta foi um pintor de situações, um fotógrafo do
cotidiano.
Nasceu no dia 31 de outubro de 1902, em Itabira do Mato Dentro anunciado por
um “anjo torto” que profetizou “Vai Carlos, ser gauche na vida” (POEMA DE SETE
FACES). Sob o signo de escorpião, “um signo tão mal compreendido e, injustamente,
vilipendiado”, o adolescente frequenta o Colégio Anchieta, de padre jesuítas, de onde,
aos 17 anos, foi expulso, sob a acusação de “insubordinação mental”, após um incidente
com um professor de português
Poeta, ensaísta, cronista Drummond foi, sobretudo testemunha de várias
gerações. Sua obra (poética) se estende de 1930 – Alguma Poesia – a 1996 Farewell
(publicação póstuma). Nela está registrado revoluções, guerras, ditaduras, crises
econômicas, o medo, o ceticismo e a melancolia
Sua companheira inseparável, a palavra. Através dela engendrou pelo conto, pela
crônica, pela crítica literária, contudo foi na poesia que se expressou de forma mais
íntima e intensa. Sua poesia é o registro de suas memórias poetizadas. Ele mesmo
confidenciou: “Minha poesia é autobiográfica”. Em Drummond, a arte de viver e de
escrever confundem-se.
À maneira do ourives, torceu, alteou, lapidou e burilou a poesia (palavra),
exaustivamente. Seus versos foram à sua consolação, sua cachaça e seu vício.
Drummond poetizou sua infância (“Infância”), seu amor à cidade natal (“Cidadezinha
qualquer”), as contradições do amor (“Não se mate”), a procura pela poesia (“Procura
da poesia”) e a eternidade das mães (“Para sempre”).

Drummond foi um desses raros poetas que nascem de tempos em tempos para
expressar as incertezas, as angústias, as dores, o amor à terra natal, a celebração do
cotidiano, sobretudo, o fazer poético. Parabéns, poeta!

  • Doutoranda em Letras pela Universidade Federal do Ceará e Coordenadora da Roda
    de Poesia do Coletivo Camaradas