A democracia é confusão

Quem espera paz na democracia se ilude. Democracia é o espaço do conflito, dos contrários, da disputa, da síntese dialética da correlação das forças políticas. O seu uso deve ser permeado por esse entendimento desapegado do romance político que apresenta a democracia como harmoniosa, dialógica e essencialmente deslocada da prática social dos indivíduos e das suas formas de organização e deliberação de interesse coletivo.




Coluna do Alexandre Lucas, Colunas

Essa democracia romanceada não cabe dentro da realidade concreta e tem causado uma confusão teórica e prática para processo democrático. O termo é bastante difundido pela direita e é também mal compreendido pela esquerda. 

Os defensores da democracia romanceada acreditam fielmente no diálogo e na harmonia entre as classes sociais antagônicas, desprezando a força motriz da sociedade baseada na propriedade privada, que é a luta de classes. O que temos hoje de democracia é resultado de conflitos históricos.

A democracia romanceada tende a advogar uma farsante democracia baseada na supremacia de um só lado, em que cabe, os que comungam do mesmo poder e seus adestrados. Os que divergem são postos na marginalidade e na criminalização antidemocrática.

Desqualificar a luta política dos que estão nas margens e fora dos espaços de decisão política é golpear a democracia. Se essa é uma prática comumente vinculada ao campo conservador e a uma elite econômica, alinhada aos partidos de direita, possivelmente precisamos ampliar o debate e desconstruir esse olhar.     

A esquerda não é a epopeia da democracia, precisamos cuidar para não caímos nos discursos romanceados de democracia e nem validar organizações que se autoproclamam como detentoras da patente da democracia.

As gestões públicas dirigidas pelas esquerdas devem qualificar e promover o espaço do conflito. As gestões democráticas e participativas não pode ser uma mera maquiagem eleitoral e publicitária, em que disfarça  formas de isolamento e distanciamento dos espaços de decisão.

Radicalizar a democracia, é o caminho que nos interessa. Para a esquerda, democracia apresenta dois aspectos básicos que precisam ser aprofundados que é socialização e simplificação de acesso aos serviços e a abundância dos mecanismos de controle e participação social.   Portanto, democracia é promover a confusão para dividir os espaços de poder e multiplicar a acessibilidade ao estado.