A cruzada de Luizianne Lins no PT cearense

Nome marcante da história petista no Ceará, Luizianne segue como alguém de destaque. No entanto, hoje, ela trava uma luta interna, quer mudar os rumos do partido e balançar a aliança com o PDT. Isolada, Luizianne vive uma cruzada com um fim já definido.




Colunas, Paulo Junior

Luizianne Lins é um dos quadros mais relevantes do PT cearense. E vem usando de sua importância no seio da sigla para tentar convencer os dirigentes partidários a consolidar uma candidatura própria na disputa pelo governo do estado. Entretanto, mesmo em meio à sua relevância para a estrutura partidária, tem encontrado o isolamento. Seu desejo acha pouco respaldo, e a aliança do PT com o PDT em nível estadual deve ser mantida sem sobressaltos. Os nomes para sucessão de Camilo (PT) estão na mesa, e desta vez a cabeça de chapa será pedetista. 

A petista tenta articular uma chapa pura, encaminhada por ela e por José Airton, outro quadro histórico do PT cearense. Airton já disputou, inclusive, o executivo cearense, em 2002, sendo à época derrotado por Lúcio Alcântara. Depois daquela eleição, o petismo local alinhou-se ao grupo político liderado pela família Ferreira Gomes, e desde então alternam-se no posto de governança estadual.

Em linhas gerais, é possível dizer que o agrupamento segue em águas tranquilas, os momentos mais tensos já foram deixados para trás, e isso só amplia o isolamento de Luizianne. Pois sem apoio dentro do partido, repercute uma ideia que ela mesma sabe que já naufragou. Lins elabora que Camilo Santana (PT), atual governador, não é um petista fiel. Ela o considera integrante do que classificou em recente entrevista como ‘clã dos Ferreira Gomes’. Este contexto só reforça o ideário de que o próprio Camilo também vive um eterno embate interno, pois, apesar de estar filiado ao PT, tem ligações mais que estreitas com os líderes políticos do grupo comandado por Ciro e Cid Gomes, figuras quase que onipresentes na história política recente do Ceará.

Com Camilo caminhando para deixar o assento de governador em abril, visando as eleições gerais e uma vaga no Senado Federal, o quadro de nomes do grupo ficará mais acirrado. Todavia, como expresso nas primeiras linhas dessa coluna, os nomes listados com mais chances de disputar a sucessão com apoio da máquina estão na estrutura do PDT, atual legenda dos Ferreira Gomes. Entre os mais cotados estão o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio; o atual presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, e a vice-governadora, Izolda Cela.

Nessa linha, importante ponderar que todos esses nomes já estão passeando pelo estado, encaminhando alianças e costurando meios de ter seus nomes confirmados em breve. Roberto Cláudio está ficando sem time e aparentemente já deixou o trem passar. Porém, Izolda e Leitão ainda estão no páreo.

Esse contexto é sintomático à Luizianne, que ao dizer-se pré-candidata ao governo, junto com Zé Airton, não vem conseguindo amarrar apoios em nenhuma base, seu nome pouco aparece nas conversas internas. Assim, apesar de importante na estrutura partidária local, sendo um nome histórico e com um legado à defender, ela bate de frente com um emaranhado que é difícil confrontar. A aliança cearense não se realiza somente nas mesas de negociação estaduais, as executivas nacionais dos partidos foram diretamente envolvidas, a fim de definir limites defronte à campanha nacional e a postulação de Lula (PT) e Ciro (PDT) pela presidência.

A petista faz um movimento de resistência interna. Resistência não tão pragmática, mas programática, pois a base do problema observado por Luizianne não é a junção com o partido que já fora liderado por Brizola, mas é o fato de o partido hoje ser localmente comandado por Cid Gomes, desafeto antigo, e com quem ela rompeu em 2012, nos idos da campanha pela prefeitura de Fortaleza. Na municipalidade são quase dez anos de rompimento, e o grupo de Cid tem se saído melhor. No campo estadual a união ainda está firme, para Luizianne, firme até demais.

As cartas desse jogo estão cada vez mais postas, e a póquer face já não serve muito mais. No fim das contas, este caminho já está praticamente dado. A aliança se mantém, o nome ao governo será do PDT, e Luizianne e Zé Airton devem buscar a reeleição para Câmara Federal. Em meio a esse turbilhão, a petista perde o brilho interno que outrora se orgulhava de ter.